Maria do Rosário Morujão
1ª Sessão
Doutora em História da Idade Média pela Universidade de Coimbra, em cuja Faculdade de Letras lecciona, integrada no Departamento de História, Estudos Europeus, Arqueologia e Artes. Investigadora integrada do Centro de História da Sociedade e da Cultura (CHSC-FLUC) e colaboradora do Centro de Estudos de História Religiosa (CEHR-UCP). Membro de diversos organismos científicos nacionais e internacionais. tem múltiplos trabalhos publicados, em Portugal e no estrangeiro, entre livros, partes de livros, actas de reuniões científicas e artigos de revistas. Principais interesses científicos: história religiosa e social medieval, com especial relevo para Cister feminino e o clero das catedrais; sigilografia; diplomática; paleografia; edição de fontes; codicologia; história do livro.
Santa Maria de Celas: das origens à extinção do mosteiro
Nesta comunicação dá-se uma panorâmica da história deste mosteiro, desde a sua integração na Ordem de Cister, no século XIII, até à sua extinção no século XIX. Fundado por D. Sancha, filha de D. Sancho I, Celas nunca alcançou a dimensão e o prestígio de Lorvão ou Arouca, as abadias cistercienses que suas irmãs Teresa e Mafalda patrocinaram. A sua localização geográfica, junto a um dos principais centros urbanos do reino português, onde os senhorios da Sé de Coimbra e do mosteiro de Santa Cruz dominavam o território, e a dispersão geográfica do seu domínio não permitiram que se expandisse como aquelas duas outras abadias.
O mosteiro tinha propriedades em Coimbra e no seu termo, bem como em Miranda do Corvo, Soure, Cantanhede, Alenquer, Torres Vedras e Lisboa. Detinha o senhorio da aldeia de Eiras, que procurou manter ao longo dos séculos, defendendo-se tenazmente das tentativas por parte do município de Coimbra de ficarem com os direitos sobre esse lugar. Entre as suas freiras contaram-se, ao longo dos séculos, numerosas damas de linhagens nobres e filhas de famílias da burguesia conimbricense.
Na primeira metade do século XVI, o mosteiro foi alvo de uma remodelação profunda levada a cabo pela abadessa D. Leonor de Vasconcelos, que além da reforma dos edifícios, protagonizou também uma reforma espiritual da comunidade. Quando, pouco tempo depois, D. Edme de Saulieu, o visitador enviado às abadias portuguesas pelo abade de Claraval, de quem dependia o mosteiro, considerou que Celas gozava de uma excelente reputação. As obras continuaram durante os séculos seguintes, dando ao mosteiro o aspecto que ainda hoje conserva.
Governado por abadessas, secundadas por prioresas e subprioresas, como era norma na Ordem de Cister, Celas conheceu superioras eleitas para toda a vida até 1615, e abadessas trienais desde então até ao fim da vida do mosteiro. As ordens religiosas foram extintas em 1834, na sequência da revolução que pôs fim ao absolutismo em Portugal; as casas monásticas femininas puderam manter-se, sem disporem, porém, dos bens que até então tinham permitido sustentar as comunidades, nem terem a possibilidade de aceitar novas monjas. Quando, em Abril de 1883, morreu a última freira de Celas, findou com ela um mosteiro com mais de 650 anos de história.
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