Mª Helena da Cruz Coelho
1ª Sessão
É Professora Catedrática aposentada da Universidade de Coimbra e Investigadora Integrada do Centro de História da Sociedade e da Cultura da Faculdade de Letras de Coimbra. É Presidente da Sociedade Portuguesa de Estudos Medievais e Vice-Presidente da Academia Portuguesa da História. Pertence a outras Academias e Comissões nacionais e estrangeiras. É do Conselho Editorial da Imprensa Nacional-Casa da Moeda. Integrou Painéis de Avaliação de História e Arqueologia da A3ES e da FCT. Participa em Projetos de Investigação nacionais e estrangeiros. Leccionou na École Nationale des Chartes e noutras Universidades brasileiras e europeias. Recebeu vários prémios e uma condecoração nacional. Participou em mais de seis centenas de reuniões científicas no país e no estrangeiro (Espanha, França, Itália, Inglaterra, Escócia, Bélgica, Áustria, Alemanha, Grécia, República Checa, Noruega, ex-URSS, USA, Canadá, Brasil, Argentina, Marrocos, Cabo Verde), e publicou mais de trezentas publicações, entre livros, capítulos de livros, artigos, prefácios, recensões, notícias, entradas em Dicionários (alguns traduzidos em russo, espanhol, francês, italiano, inglês e alemão).
Principais áreas de interesse – História Medieval de Portugal, Diplomática, História Política (biografias), História Religiosa, História Economico-social (Rural e Urbano), História dos Poderes, História da Alimentação, História do Quotidiano.
Recebeu oito prémios da Academia Portuguesa da História e o Prémio Ciência da Fundação Calouste Gulbenkian (1990). Foi agraciada nacionalmente com o Grau de Grande Oficial da Ordem do Infante D. Henrique (2011).
Portugal nos alvores de Duzentos – um reino aberto e em construção
Apresentaremos nesta comunicação algumas linhas sobre a construção do reino de Portugal no século XII e inícios do seguinte, conjugando por dentro dele a evolução da cidade de Coimbra e, no interior da urbe coimbrã, a emergência do polo monástico de Celas. Esboça-se o legado do rei Fundador de um território expandido até ao Tejo, organizado socialmente em senhorios e concelhos, enquadrado religiosamente por dioceses, paróquias e mosteiros e reconhecido politicamente como reino autónomo pelo chefe da Cristandade. Fixando-nos em seguida nos seus herdeiros, relevaremos o protagonismo militar, defensivo e repovoador de D. Sancho I e a precoce política burocrática e de afirmação do poder real de D. Afonso II, traduzida num vasto corpo legislativo e em actos e registos escritos de diversa natureza. Articula-se o cenário urbano de Coimbra, cidade episcopal e monástica, lugar preferencial da corte, nodal eixo viário e dinâmico centro de trocas de bens e serviços, com a tessitura territorial e política desse reino em construção. Reino que se firmava internamente, mas que, em consentâneo, se abria ao exterior, acolhendo as novas correntes religiosas de cistercienses e mendicantes, que a família real, relacionada com diversos reinos peninsulares e da Cristandade, muito apoiava e protegia.
INSCRIÇÕES
Luis Miguel Rêpas
1ª Sessão
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Maria do Rosário Morujão
1ª Sessão
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Saul António Gomes
2ª Sessão
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Catarina Fernandes Barreira
2ª Sessão
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Carla Varela Fernandes
3ª Sessão
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Miguel Metelo de Seixas
3ª Sessão
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Manuel Pedro Ferreira
3ª Sessão
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Carla Alexandra Gonçalves
4ª Sessão
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CARLA VARELA FERNANDES
É Professora de Arte Medieval no Departamento de História da Arte da Faculdade de Ciências Socias e Humanas da Universidade NOVA de Lisboa e investigadora integrada do Instituto de Estudos Medievais da Nova-FCSH.
Doutora em História da Arte pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (2005), com tese sobre – Poder e Representação. Iconologia da Família Real Portuguesa. Primeira Dinastia – Séculos XII a XIV, e foi bolseira de Pós-Doutoramento da FCT com projecto sobre ao tema genérico: Escultura figurativa portuguesa dos séculos XII a XIV e a produção escultórica coeva internacional. Transferências de conhecimentos, do “saber fazer” e a itinerância artística.
Tem participado em diversos projectos de investigação, em Portugal e em Espanha. Participa em encontros científicos; publica estudos em Portugal e no estrangeiro sobre arte e iconografia medievais e publicou o seu último livro em 2020, intitulado Santos, Heróis e Monstros. O Claustro da Abadia de Santa Maria de Celas (Editora Colibri).
Foi Conservadora do Museu Arqueológico do Carmo (Lisboa), Coordenadora do Fórum Cultural de Alcochete e Chefe da Divisão de Museus da Câmara Municipal de Cascais.
O claustro historiado e o edifício medieval de Santa Maria de Celas
Esta breve intervenção terá como objectivos principais chamar a atenção para alguns dos aspectos mais relevantes que caracterizam o claustro da abadia de Celas, integrando-o no edifício medieval e no contexto europeu dos claustros historiados. A atenção incidirá nos aspectos iconográficos e estilísticos mais relevantes dos capitéis que constituem as duas alas de origem medieval (seleccionados entre o vasto grupo ainda existente), entre os que ainda se encontram in situ e os que foram integrados nas colecções do Museu Nacional de Machado de Castro.
CATARINA FERNANDES BARREIRA
Natural de Lisboa, Catarina Fernandes Barreira é doutorada em Ciências da Arte/Belas Artes e Investigadora Integrada do Instituto de Estudo Medievais da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e, desde Fevereiro de 2019 investigadora contratada ao abrigo da Norma Transitória do DL n.º 57/2016 alterado pela Lei n.º 57/2017, financiado por fundos nacionais através da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (DL 57/2016/CP1453/CT0070).
Entre 2006 e 2009 foi Investigadora Bolseira da Fundação para a Ciência e Tecnologia com uma Bolsa de Doutoramento (SFRH/BD/23872/2005), na Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa, com o projecto Gárgulas: representações do feio e do grotesco no contexto português. Séculos XIII a XVI. Foi ainda Investigadora Bolseira da Fundação para a Ciência e Tecnologia, com bolsa de Pós-Doutoramento (SFRH/BPD/70067/2010), entre 2011 e 2017, com o projecto: O papel desempenhado pelos fenómenos do nomadismo artístico e do portuguesismo na produção de códices iluminados no scriptorium de Alcobaça nos séculos XIV e XV.
Entre 2015 e 2019 desempenhou o cargo de coordenadora do Grupo de Investigação Imagens, Textos e Representações, e entre 2019 e 2021, Sub-Directora suplente do Instituto de Estudos Medievais. É colaboradora do Centro de Estudos de História Religiosa da Universidade Católica Portuguesa e, entre 2011 e 2021, foi Professora Adjunta Convidada na Escola Superior de Educação e Ciências Sociais do Instituto Politécnico de Leiria. Tem participado em vários congressos nacionais e internacionais e publicado regularmente em revistas indexadas nacionais e internacionais. Tem ainda experiência na orientação e co-orientação de teses de doutoramento e de mestrado. As suas áreas de interesse são, dentro dos estudos cistercienses, os livros, os seus usos e circulação, os scriptoria e as bibliotecas, bem como a Liturgia cisterciense, a sua prática e a sua ligação com os espaços monásticos.
É ainda Investigadora Principal dos projectos financiados pela FCT Cistercian Horizons. Studying and characterizing a medieval scriptorium and its production. Alcobaça. Local identities and liturgical uniformity in dialogue (ref. PTDC/ART-HIS/29522/2017) e Books, rituals and space in a Cistercian nunnery. Living, praying and reading in Lorvão, 13th – 16th centuries (refª PTDC/ART-HIS/0739/2020).
Scriptoria e bibliotecas cistercienses. A produção de códices em contexto português, séculos XII a XVII.
É nossa intenção apresentar um breve panorama sobre a produção de códices no contexto cisterciense português, a partir das bibliotecas monásticas conhecidas, com particular destaque para o scriptorium do Mosteiro de Alcobaça.
Serão ainda abordadas questões como a origem e os usos dos códices provenientes de mosteiros femininos, nomeadamente do Mosteiro de Lorvão. E, por fim, terminar a nossa incursão com um códice proveniente do Mosteiro de Celas, uma Regra de São Bento, em português, encomendada por D. Helena de Noronha, abadessa entre 1575 e 1615. Atender-se-á às leituras, significados e usos deste códice iluminado, numa época em que o livro impresso já se havia imposto definitivamente.
LUÍS MIGUEL RÊPAS
Doutorado em História Medieval, pela Universidade de Coimbra, com uma tese intitulada Esposas de Cristo. As Comunidades Cistercienses Femininas na Idade Média, que defendeu em 2021 e que foi distinguida com o “Prémio A. de Almeida Fernandes”, de História Medieval Portuguesa.
É membro integrado do Instituto de Estudos Medievais (FCSH/UNOVA) e colaborador do Centro de História da Sociedade e da Cultura (FLUC).
Tem-se dedicado ao estudo da Idade Média, desenvolvendo trabalhos, sobretudo, nos domínios da História Monástica Feminina e da História Social. Da sua produção historiográfica destaca-se ainda a sua tese de mestrado, intitulada Quando a Nobreza Traja de Branco. A Comunidade Cisterciense de Arouca durante o Abadessado de D. Luca Rodrigues (1286-1299), que foi publicada em 2003, bem como um conjunto considerável de artigos sobre os mosteiros cistercienses femininos portugueses e as suas comunidades, em particular sobre Arouca, Almoster, Odivelas, Cós e Cástris.
Encontra-se, atualmente, a trabalhar, como investigador, no Projeto Livros, rituais e espaço num Mosteiro Cisterciense feminino. Viver, ler e rezar em Lorvão nos séculos XIII a XVI (ref.ª PTDC/ART-HIS/0739/2020), financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia. No âmbito deste projeto, é o Coordenador Científico do Ciclo de Conferências “Viver, ler e rezar no Mosteiro de Lorvão (séculos XIII a XVI)”, que se encontra a decorrer, mensalmente, ao longo deste ano, e em que intervêm alguns dos maiores especialistas europeus sobre temáticas cistercienses.
As celas e as enceladas de Santa Maria antes da sua incorporação na Ordem de Cister
Dizer que a primeira referência às Celas de Guimarães (ou às Celas de Santa Maria, junto a Coimbra, no lugar de Guimarães) remonta a Dezembro de 1221 não significa que nessa data já existisse uma comunidade de monjas cistercienses em Celas, nem sequer que aí houvesse um mosteiro com religiosas submetidas a uma qualquer ordem. Na verdade, entre o aparecimento das primeiras enceladas e a sua incorporação na Ordem de Cister decorreram bastantes anos. Para além disso, uma análise atenta dos documentos primitivos de Celas permite-nos concluir não só que as primeiras religiosas não eram acompanhadas espiritualmente por monges cistercienses, mas também que o primeiro templo e o restante plano construtivo não previam nem se ajustavam ao modo de vida cisterciense.
Assim, o estudo que se apresenta incide, essencialmente, nas celas e nas enceladas de Santa Maria antes da sua incorporação na Ordem de Cister. Tendo em consideração que o pedido de D. Sancha dirigido ao Capítulo Geral para a admissão de Celas na Ordem de Cister só foi apresentado em setembro de 1227 e que o primeiro documento que valida a sua inclusão na referida Ordem é uma bula datada de 9 de julho de 1232, em que Gregório IX tomou sob sua proteção o mosteiro de Santa Maria de Celas e o seu património, procuraremos compreender o percurso desta comunidade desde 1221 até 1232.
Será, naturalmente, dada uma particular atenção aos movimentos religiosos do primeiro quartel do século XIII, em particular aos mendicantes, os quais propunham uma nova forma de vida, baseada na pobreza original, no Evangelho e na imitação da vida de Cristo, a fim de se entenderem as motivações espirituais das primeiras enceladas e o contexto do seu aparecimento.
MARIA HELENA DA CRUZ COELHO
É Professora Catedrática aposentada da Universidade de Coimbra e Investigadora Integrada do Centro de História da Sociedade e da Cultura da Faculdade de Letras de Coimbra. É Presidente da Sociedade Portuguesa de Estudos Medievais e Vice-Presidente da Academia Portuguesa da História. Pertence a outras Academias e Comissões nacionais e estrangeiras. É do Conselho Editorial da Imprensa Nacional-Casa da Moeda. Integrou Painéis de Avaliação de História e Arqueologia da A3ES e da FCT. Participa em Projetos de Investigação nacionais e estrangeiros. Leccionou na École Nationale des Chartes e noutras Universidades brasileiras e europeias. Recebeu vários prémios e uma condecoração nacional. Participou em mais de seis centenas de reuniões científicas no país e no estrangeiro (Espanha, França, Itália, Inglaterra, Escócia, Bélgica, Áustria, Alemanha, Grécia, República Checa, Noruega, ex-URSS, USA, Canadá, Brasil, Argentina, Marrocos, Cabo Verde), e publicou mais de trezentas publicações, entre livros, capítulos de livros, artigos, prefácios, recensões, notícias, entradas em Dicionários (alguns traduzidos em russo, espanhol, francês, italiano, inglês e alemão).
Principais áreas de interesse – História Medieval de Portugal, Diplomática, História Política (biografias), História Religiosa, História Economico-social (Rural e Urbano), História dos Poderes, História da Alimentação, História do Quotidiano.
Recebeu oito prémios da Academia Portuguesa da História e o Prémio Ciência da Fundação Calouste Gulbenkian (1990). Foi agraciada nacionalmente com o Grau de Grande Oficial da Ordem do Infante D. Henrique (2011).
Portugal nos alvores de Duzentos – um reino aberto e em construção
Apresentaremos nesta comunicação algumas linhas sobre a construção do reino de Portugal no século XII e inícios do seguinte, conjugando por dentro dele a evolução da cidade de Coimbra e, no interior da urbe coimbrã, a emergência do polo monástico de Celas. Esboça-se o legado do rei Fundador de um território expandido até ao Tejo, organizado socialmente em senhorios e concelhos, enquadrado religiosamente por dioceses, paróquias e mosteiros e reconhecido politicamente como reino autónomo pelo chefe da Cristandade. Fixando-nos em seguida nos seus herdeiros, relevaremos o protagonismo militar, defensivo e repovoador de D. Sancho I e a precoce política burocrática e de afirmação do poder real de D. Afonso II, traduzida num vasto corpo legislativo e em actos e registos escritos de diversa natureza. Articula-se o cenário urbano de Coimbra, cidade episcopal e monástica, lugar preferencial da corte, nodal eixo viário e dinâmico centro de trocas de bens e serviços, com a tessitura territorial e política desse reino em construção. Reino que se firmava internamente, mas que, em consentâneo, se abria ao exterior, acolhendo as novas correntes religiosas de cistercienses e mendicantes, que a família real, relacionada com diversos reinos peninsulares e da Cristandade, muito apoiava e protegia.
MANUEL PEDRO FERREIRA
Manuel Pedro Ferreira (n. 1959) estudou Arquitectura, Filosofia e Música em Lisboa e doutorou-se em Musicologia na Universidade de Princeton (1997). Ensina na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, onde ocupa a cátedra de Musicologia Histórica e coordena desde 2005 o Centro de Estudos de Sociologia e Estética Musical (CESEM). Tem-se dedicado sobretudo ao ensino e à investigação da música da Idade Média e do Renascimento, sem descurar a interpretação musical: fundou e dirige desde 1995 o grupo Vozes Alfonsinas, com o qual gravou vários CDs. Como musicólogo, publicou internacionalmente mais de duzentos trabalhos científicos em livros e revistas e dirigiu vários projectos de investigação. Escreveu ou coordenou mais de vinte livros, entre os quais: O Som de Martin Codax (Lisboa, 1986); Cantus coronatus — Sete cantigas d’amor d’El-Rei Dom Dinis (Kassel, 2005); Dez compositores portugueses. Percursos da escrita musical no século XX (Lisboa, 2007); Antologia de Música em Portugal na Idade Média e no Renascimento, 2 vols. (Lisboa, 2008); Aspectos da Música Medieval no Ocidente Peninsular, 2 vols. (Lisboa, 2009-2010); Revisiting the Music of Medieval France: from Gallican chant to Dufay (Farnham-Burlington, 2012); Musical exchanges, 1100-1650: Iberian connections (Kassel, 2016); Música e História: Estudos em homenagem a Manuel Carlos de Brito (Lisboa, 2017) e A Notação das Cantigas de Santa Maria: Edição Diplomática, 3 vols. (Lisboa, 2017). Tem também exercido com regularidade, desde 1978, o ofício de crítico musical. Tem-se também aventurado pela poesia e pela composição musical (tendo escrito algumas dezenas de obras vocais e de câmara). É membro da Academia Europeia (desde 2010) e da direcção da Sociedade Internacional de Musicologia (desde 2012).
Vertentes musicais do monaquismo cisterciense
Será feito primeiramente um resumo da originalidade de Cister no que respeita aos aspectos litúrgico-musicais. De facto, o respeito literal pela regra primitiva de S. Bento, a consciência filológica relativa aos textos bíblicos em circulação e a fidelidade a uma pronúncia culta do latim foram concomitantes da busca das fontes primevas do canto gregoriano e do hinário conexo, levando a duas reformas musicais sucessivas, a do abade Stephen Harding e a de São Bernardo, cujas diferenças serão evidenciadas. A segunda reforma, que se impôs a partir de meados do século XII, produziu também um corpo teórico, que em grande parte a inspirou. Na segunda parte da palestra será explorada a margem de criatividade que o ideal de uniformidade na liturgia e nos costumes deixou aos mosteiros, dando-se como exemplo o caso português.
MARIA DO ROSÁRIO BARBOSA MORUJÃO
Doutora em História da Idade Média pela Universidade de Coimbra, em cuja Faculdade de Letras lecciona, integrada no Departamento de História, Estudos Europeus, Arqueologia e Artes. Investigadora integrada do Centro de História da Sociedade e da Cultura (CHSC-FLUC) e colaboradora do Centro de Estudos de História Religiosa (CEHR-UCP). Membro de diversos organismos científicos nacionais e internacionais. tem múltiplos trabalhos publicados, em Portugal e no estrangeiro, entre livros, partes de livros, actas de reuniões científicas e artigos de revistas. Principais interesses científicos: história religiosa e social medieval, com especial relevo para Cister feminino e o clero das catedrais; sigilografia; diplomática; paleografia; edição de fontes; codicologia; história do livro.
Santa Maria de Celas: das origens à extinção do mosteiro
Nesta comunicação dá-se uma panorâmica da história deste mosteiro, desde a sua integração na Ordem de Cister, no século XIII, até à sua extinção no século XIX. Fundado por D. Sancha, filha de D. Sancho I, Celas nunca alcançou a dimensão e o prestígio de Lorvão ou Arouca, as abadias cistercienses que suas irmãs Teresa e Mafalda patrocinaram. A sua localização geográfica, junto a um dos principais centros urbanos do reino português, onde os senhorios da Sé de Coimbra e do mosteiro de Santa Cruz dominavam o território, e a dispersão geográfica do seu domínio não permitiram que se expandisse como aquelas duas outras abadias.
O mosteiro tinha propriedades em Coimbra e no seu termo, bem como em Miranda do Corvo, Soure, Cantanhede, Alenquer, Torres Vedras e Lisboa. Detinha o senhorio da aldeia de Eiras, que procurou manter ao longo dos séculos, defendendo-se tenazmente das tentativas por parte do município de Coimbra de ficarem com os direitos sobre esse lugar. Entre as suas freiras contaram-se, ao longo dos séculos, numerosas damas de linhagens nobres e filhas de famílias da burguesia conimbricense.
Na primeira metade do século XVI, o mosteiro foi alvo de uma remodelação profunda levada a cabo pela abadessa D. Leonor de Vasconcelos, que além da reforma dos edifícios, protagonizou também uma reforma espiritual da comunidade. Quando, pouco tempo depois, D. Edme de Saulieu, o visitador enviado às abadias portuguesas pelo abade de Claraval, de quem dependia o mosteiro, considerou que Celas gozava de uma excelente reputação. As obras continuaram durante os séculos seguintes, dando ao mosteiro o aspecto que ainda hoje conserva.
Governado por abadessas, secundadas por prioresas e subprioresas, como era norma na Ordem de Cister, Celas conheceu superioras eleitas para toda a vida até 1615, e abadessas trienais desde então até ao fim da vida do mosteiro. As ordens religiosas foram extintas em 1834, na sequência da revolução que pôs fim ao absolutismo em Portugal; as casas monásticas femininas puderam manter-se, sem disporem, porém, dos bens que até então tinham permitido sustentar as comunidades, nem terem a possibilidade de aceitar novas monjas. Quando, em Abril de 1883, morreu a última freira de Celas, findou com ela um mosteiro com mais de 650 anos de história.
MIGUEL METELO DE SEIXAS
Doutor em História pela Universidade Lusíada de Lisboa (2010), é desde 2011 investigador integrado do Instituto de Estudos Medievais/Faculdade de Ciências Sociais e Humanas/Universidade Nova de Lisboa, onde coordenou o grupo de investigação “Imagens, Textos e Representações” (2019-2021). É actualmente docente das disciplinas “História de Portugal Medieval (séculos XIII-XV)” e “Categorias Mentais: Práticas e Representações” respectivamente da licenciatura em História e do mestrado em Estudos Medievais da mesma Faculdade.
Tem participado em numerosos projectos de investigação financiada em Portugal, Espanha e França, e coordenou o projecto “In the Service of the Crown. The use of heraldry in royal political communication in Late Medieval Portugal” (IEM e Universität Münster, financiado por Volkswagen Stiftung). Foi professor convidado nas seguintes universidades: École Pratique des Hautes Études, Universidade Federal da Bahia, Università degli Studi di Firenze, Université de Poitiers, Università degli Studi di Viterbo e Università degli Studi di Roma III.
Na área da heráldica e da história, conta com cerca de uma centena de publicações editadas em Portugal, Brasil, França, Espanha, Alemanha, Grã-Bretanha e Itália, com destaque para: Quinas e castelos, sinais de Portugal (2019) e Heraldry in Medieval and Early Modern State-Rooms – towards a tipology of heraldic programmes in spaces of self-representation (2020). É sócio efectivo do Instituto Português de Heráldica, a que presidiu entre 2010 e 2021, dirigindo também a revista Armas e Troféus.
Sinais visuais e sonoros: a heráldica de Dona Berengária Aires
A presente comunicação pretende revisitar a heráldica de Dona Berengária Aires, conhecida por vestígios associados a dois mosteiros femininos cistercienses: o de Celas, em Coimbra, e o de Almoster, próximo de Santarém. Tais vestígios revelam-se em dois tipos de materialidade: por um lado, um conjunto relativamente vasto de escudos esculpidos em pedra, patente sobretudo em capitéis; por outro, um sino armoriado, conservado no segundo cenóbio. Este último exemplar afigura-se especialmente interessante, na medida em que a gravação realizada no sino procurou reproduzir o selo da fundadora, conforme atesta a legenda que corre em redor das armas. Mesmo sem trazer novidades em relação à composição heráldica usada por Dona Berengária, a presente comunicação procura meditar sobre o uso destes sinais nos mosteiros a que eles se destinaram e em que desempenharam um papel de relevo quer na ligação da encomendante com o mundo transcendente, quer na apropriação do espaço sagrado e na perpetuação da relação com a comunidade monástica, quer ainda na dimensão sonora a que tais sinais se encontravam ligados.
SAUL ANTÓNIO GOMES
Saul António Gomes fez o seu doutoramento, na Universidade de Coimbra, onde é professor associado com agregação da Faculdade de Letras, com uma tese dedicada ao estudo da chancelaria do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra nos séculos XII a XIV. Da sua investigação destaca os trabalhos em torno da edição de fontes documentais medievais e modernas, da Paleografia e Diplomática, da Sigilografia e da História dos arquivos portugueses e, ainda, os estudos levados a cabo sobre a Região Centro de Portugal. É autor de diversos estudos sobre a história da presença judaica em Portugal, nomeadamente em Coimbra e em Leiria, e de várias obras acerca da história das Ordens Religiosas em Portugal, entre as quais avultam os títulos dedicados aos cónegos regrantes de Santo Agostinho, aos monges cistercienses, com particular destaque para as abadias de Alcobaça e de Santa Maria de Cós e aos frades mendicantes dominicanos e franciscanos.
O Mosteiro de Alcobaça e a observância cisterciense feminina entre os séculos XIII e XIV
Nesta comunicação, o autor propõe-se debater algumas questões da história do monaquismo cisterciense feminino em Portugal, nomeadamente as que envolvem o debate historiográfico em torno dos níveis de observância regular e das práticas da disciplina monástica, com especial enfoque no período histórico da transição do século XIII para o XIV, marcado pela decretal Periculoso, promulgada pelo papa Bonifácio VIII, em 1298, e confirmada, em 1309, por Clemente V.
Os problemas organizacionais e disciplinares que atingiam o monaquismo feminino europeu, em geral, e cisterciense, em particular, nesse tempo, não foram ignorados pelo Capítulo Geral de Cister, tendo encontrado, também, boa recepção por parte das abadias bernardas estabelecidas em Portugal, em especial a de Alcobaça, mas também junto do episcopado português e da própria Coroa. O conhecimento da situação histórica portuguesa nesta matéria, na verdade, parece poder contribuir para elucidar mais aprofundadamente este complexo capítulo da história global da Igreja no Ocidente, como se procurará demonstrar.