Porquê um prado em vez do relvado?

A Junta de Freguesia de Santo António dos Olivais (JFSAO) tem em marcha um plano de renaturalização de várias áreas verdes na Freguesia. Seguindo os melhores exemplos e as recomendações dos especialistas do Centro de Ecologia Funcional da Universidade de Coimbra, quer-se transformar terrenos pobres em prados floridos, verdadeiros refúgios ricos em biodiversidade. À medida que todos nos tornamos mais conscientes dos riscos que as alterações climáticas acarretam, nomeadamente na perda da biodiversidade, é obrigação dos poderes públicos, e em particular das juntas de freguesia, o compromisso com opções mais sustentáveis na gestão dos espaços verdes por forma a garantir que as gerações futuras possam usufruir de um maior equilíbrio entre o bem-estar e a conservação da Natureza.

Ao fim de décadas de práticas altamente nocivas para o meio ambiente (como o uso recorrente de herbicidas e o corte indiscriminado das plantas, não respeitando o seu ciclo natural e reprodutivo) deixámos de ver as papoilas, os malmequeres e tantas outras flores que antes nasciam espontaneamente um pouco por todo o lado. Além do seu valor ornamental, sabe-se hoje que as flores silvestres cumprem um papel essencial na descompactação dos solos, ajudando à retenção das águas pluviais, contribuem para a captação de CO2 da atmosfera e, claro, servem de alimento e refúgio para inúmeras espécies de animais, entre eles, os polinizadores, sem os quais não teríamos produção viável de alimentos.

Por isso mesmo, em parceria com o projeto de ecocidadania Jardim Monte Formoso, arrancamos já em novembro com três intervenções-piloto com um forte carácter de sensibilização e consciencialização da população em geral, e, em particular, dos residentes na na FSAO, com vista a testar soluções e métodos de reintrodução de espécies silvestres autóctones nas zonas verdes urbanas. Estas intervenções contemplam:

  • A plantação de arbustos, bolbos e flores silvestres, dando preferência a plantas autóctones;
  • A redução da frequência de cortes em áreas delimitadas;
  • O controlo de espécies invasoras;
  • A promoção da sensibilização ambiental e da capacitação dos cidadãos enquanto agentes de mudança.

Onde serão feitas as intervenções?

Para já, estão previstas intervenções em três espaços:

  1. Intercepção entre a Rua Fernandes Assis Pacheco e a Av. António Portugal
  2. Ladeira do Chão do Bispo
  3. Av. Fernando Namora

Num modelo de ação participativa e comunitária, vão ser plantados bolbos e semeadas plantas silvestres autóctones. Dentre as várias dezenas de espécies selecionadas estão:

Além do seu inegável valor ornamental, as espécies que compõem a selecção para prado baixo e médio trazem também importantes benefícios ecológicos e económicos, uma vez que não necessitam de rega, cortes frequentes, fertilização ou controlo de pragas. Diversas em tamanhos e cores, as plantas silvestres autóctones são capazes de atrair um maior número de insetos polinizadores, e, como têm uma floração prolongada e/ou desfasada ao longo do ano, garantem que mesmo em alturas de maior escassez de alimento (como no Inverno) os animais possam encontrar um mínimo de sustento.  

É necessário, contudo, compreender que, enquanto seres vivos, as plantas têm o seu ciclo, ou seja, não estarão sempre floridas como aquelas que encontramos à venda nos hortos ou supermercados. No Inverno, o prado será predominantemente verde, multicolor na Primavera e Verão, dourado e acastanhado no início do Outono. É preciso treinar o olhar e (re)aprender a apreciar os tempos da Natureza com a consciência de que as cidades — vistas habitualmente como fonte de poluição e degradação ambiental — têm um papel importante a cumprir na conservação e promoção da biodiversidade.

Na busca de um caminho de equilíbrio entre aquilo que são as expectativas legítimas dos cidadãos em relação ao cuidado dos espaços verdes em meio urbano e a realidade preocupante dos efeitos das alterações climáticas e da perda de biodiversidade, com consequências concretas no dia-a-dia de todos nós, a JFSAO compromete-se com a adopção das melhores práticas, respeitando as recomendações dos especialistas, sem nunca descurar o diálogo com os cidadãos.