24 a 30 de novembro e 7 de dezembro
Visão Histórica
Estamos em princípios do Século XIII. Por volta de 1210, a infanta D. Sancha funda o Real Mosteiro de Santa Maria de Celas, de Vimaranes, da Ordem de São Bernardo, e, à sua sombra, nasce e vai crescendo o Burgo de Celas.
Poucos anos depois, em 1217/18, junto à capelinha de Santo Antão, os primeiros franciscanos chegados a Portugal fundam um humilde eremitério. E, em 1220, depois de nesse mesmo ano ter tomado ordens sacerdotais em Santa Cruz, aqui se vem acolher Frei António, preferindo este nome ao de Fernando e trocando o rico hábito e a murça branca de cónego regrante de Santo Agostinho pela humílima estamenha franciscana. Diremos, a propósito, que o nóvel franciscano optou pelo nome do patrono do modesto cenóbio, visto que do nome latino Antonius veio Antão e veio António.
Frei António morreu em 1231 e, após a sua canonização, ocorrida logo no ano seguinte, o convento franciscano dos Olivais de Coimbra mudou a invocação de Santo Antão para Santo António. E assim nasceu Santo António dos Olivais, cuja povoação se foi desenvolvendo nas imediações da colina sagrada.
Cerca de 1247, os menoritas foram para o seu novo convento de S. Francisco da Ponte e, nos finais do século XV, em virtude do crescente culto antonino, o cabido catedrático mandou reformar o templo dos Olivais, ficando a igreja com as dimensões que hoje tem, à exceção de um pequeno aumento da capela-mor, feito no século XVIII, pela mesma altura em que foi constituída a vistosa escadaria.
No século XVI, são ampliadas as instalações conventuais, no espaço que hoje é ocupado pelo adro e pelo cemitério, para albergar a comunidade dos franciscanos capuchos.
Pela mesma época, também o Mosteiro de Celas sofria grandes obras de ampliação e beneficiação.
Para tomarmos um ponto de referência, diremos que, em 1740, o Burgo de Celas contava 48 fogos, o que perfazia cerca de 200 habitantes. E o povoado de Santo António dos Olivais teria, então, um pouco mais.
Eis-nos chegados a 1854. Nos meios eclesiásticos e civis amadurecera a ideia de redimensionar as freguesias da cidade de Coimbra.
Nesse sentido, são enviados requerimentos e representações ao Ministério dos Negócios Eclesiásticos e de justiça e, por portaria régia de 20 de Janeiro de 1854, o arcebispo de Coimbra, D. Manuel Bento Rodrigues, e o governador civil doi distrito são incumbidos de promoverem a elaboração de um parecer, no qual se deveria declarar, “de modo claro e preciso, o número de freguezias que convém conservar sobre si, a circunscripção ou limites de cada uma delas – o tempo em que há-de constituir-se a parochia – a denominação ou o orago ou oragos com que fica – o título distinto do parocho – o número de fogos e almas que contiver – e quaesquer outros esclarecimentos estatísticos, de que convenha tomar nota.”
Com o fim de dar cumprimentos à determinação régia, o prelado, de acordo com o governador civil, nomeou uma comissão de cinco membros, constituída pelos Doutores João Maria Baptista Callixto, António dos Santos Pereira jardim, Roque Joaquim Fernandes Thomás, João Correia Ayres de Campos e António Egypcio Quaresma Lopes de Carvalho e Vasconcelos.
Esta comissão elaborou o “Plano de reducção, suppressão, arredondamento e erecção de parochias na cidade de Coimbra e seus subúrbios”, o qual veio a merecer aprovação superior e a ser convertido em decreto régio, assinado a 20 e publicado no Diário do Governo, de 25 de novembro de 1854.
Antes desta data, existiam na cidade de Coimbra nove freguesias, a saber: Nossa Senhora da Assunção, Salvador, São Pedro, São Cristóvão, São João de Almedina, São Bartolomeu, São Tiago, São João de Santa Cruz e Santa Justa.
Com a publicação do decreto de 25 de Novembro de 1854, as nove freguesias da cidade foram reduzidas a quatro, sendo criadas duas novas paróquias nos subúrbios, apresentando o seguinte número de fogos:
- Sé Catedral: 402
- Sé Velha: 452
- São Bartolomeu: 541
- Santa Cruz: 729
- Santo António dos Olivais: 749
- Santa Clara: 289
Estava criada a freguesia e paróquia de Santo António dos Olivais, desde logo a maior de Coimbra. Faz agora precisamente 170 anos.
A primeira parte do artigo quarto do aludido decreto, de 25 de Novembro de 1854, refere-se exclusivamente à criação desta freguesia e reza assim:
“Começa no sítio da Quinta das Albergarias, segue pela asinhaga do Reitor da Sé, Ladeira dos Loyos, Casal da Fortuna, Quinta do Cidral, Asinhaga do Cerieiro, Lagar do Calhabé, Estrada do Fonseca, até às Vendas de Arregaça, Estrada da Portella, em direcção à asinhaga e porto fronteiro à Lapa dos Esteios, margem do Rio, Portella, Torres até ao Roxo, pelos limites actuais de S. Paulo e Penacova. Do Roxo pelo caminho mais curto até ao Promotor, estrada de Bemfins, Conchada, Montarroio, Montes Claros, Albergarias; tudo à esquerda, e ao norte do Mondego. Comprehende mais ao sul deste Rio, os logares da ribeira das Carvalhosas, Palheiros e Zôrro, que fazem parte do curato das Torres: Fica composta de 749 fogos.”
Como que forçando as leis da natureza, a freguesia de Santo António dos Olivais nasceu crescida, porquanto, como vimos, no acto do corte do cordão umbilical, ficou desde logo sendo a maior de Coimbra. Mas como evoluiu até ao presente a sua população?
Atentemos nos dados estatísticos, apresentados no seguinte quadro:
Anos |
Fogos |
Habitantes |
1854 |
749 |
3.000 |
1864 |
—— |
3.646 |
1890 |
1.169 |
4.495 |
1900 |
1.249 |
5.129 |
1911 |
1.382 |
6.102 |
1920 |
1.414 |
6.249 |
1930 |
2.011 |
8.792 |
1940 |
2.437 |
9.419 |
1950 |
3.081 |
13.189 |
1960 |
4.542 |
18.015 |
1970 |
6.349 |
19.267 |
1981 |
8.738 |
32.268 |
2021 |
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41.127 recenseados |
Fonte:
Edição da Junta de Freguesia de Santo António dos Olivais – 1989.
“A Criação da Freguesia de Santo António dos Olivais” – Visão Histórica e Perspectivas Actuais,
Autoria: Dr. José Manuel Azevedo Silva